Dissertação - Priscila Wittemberg Azevedo

CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS ATENDIDAS EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM TRAUMATOLOGIA NO EXTREMO SUL DO BRASIL

Autor: Priscila Wittemberg Azevedo (Currículo Lattes)

Resumo

As quedas representam um problema de saúde pública que precisa ser melhor conhecido e equacionado pelos gestores de saúde. Este estudo teve como objetivo geral conhecer os principais fatores que influenciam as quedas e consequências destes episódios em indivíduos atendidos no serviço de Pronto Atendimento em um hospital de referência em traumatologia em um município do extremo sul do Brasil. Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa descritiva, de caráter censitário que incluiu os indivíduos que buscaram este serviço de Pronto Atendimento entre meados de abril e julho de 2015. Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento contendo questões fechadas e abertas que permitiu a caracterização da amostra, a compreensão do histórico e características das quedas e suas principais consequências. Foi realizada uma análise descritiva dos dados com distribuição das frequências, cálculo das médias das variáveis contínuas e a associação entre as variáveis foi testada por meio do Qui-Quadrado. A amostra deste estudo, constituída por 818 sujeitos vítimas de queda, representou 95,2% dos atendimentos nesse serviço de saúde durante os três meses de coleta de dados. A maioria das vítimas de queda era do gênero feminino (54,9%) e oriundas do próprio município (87,8%). Destaca-se as porcentagens proporcionalmente elevadas de crianças < de 10 anos (19,6%) e de ≥ 60 anos (30,8%). Na estratificação por gênero e idade, entre os mais jovens (< 20 anos) verifica-se porcentagens mais elevadas (p<0,00) de quedas no gênero masculino (43,1%). Já entre os idosos (> 60 anos), as mulheres são as vítimas mais frequentes (41,7%). Dos entrevistados, 48,5% possuíam renda família per capita entre 1⁄2 e 1,5 salários mínimos. Dentre os tipos de queda, o episódio mais prevalente foi aquele que ocorreu no mesmo nível por escorregão ou tropeção (41,8%), seguido pelas quedas envolvendo cadeiras e outras mobílias (11,9%) e as quedas de ou em escadas ou degraus (7,9%). Ressalta-se que 52,8% das vítimas apresentavam antecedentes de queda. Na separação por faixa etária, as quedas do mesmo nível por escorregão ou tropeção foram mais prevalentes entre os idosos (56,3%; p<0,00) e as envolvendo mobília mais frequentes entre as crianças e adolescentes (21,7%; p<0,00). Os locais de queda mais frequentes foram a própria residência (52,2%), a via pública (19,1%) e o local de trabalho (12,6%). A análise por faixa etária mostrou que a residência foi o local de queda mais frequente dos idosos (67,7%) e de crianças e adolescentes (50,9%). Dos participantes que referiram atendimento prévio em outra unidade de saúde (34,5%), menos da metade buscou a Unidade Básica de Saúde. A condução própria foi o meio mais utilizado para locomoção até o serviço, sendo a ambulância referida em 29,0% dos casos. As contusões (40,1%), as fraturas (24,8%) e os cortes (17,1%) foram as lesões mais frequentes. Entre as fraturas se destacam as de membro superior (11,2%). Na estratificação por idade destacam-se maiores porcentagens de fraturas de membro superior entre os mais jovens (14,6%; p=0,03). Os cortes são mais frequentes (p<0,00) nas crianças e adolescentes (20,2%) e nos idosos (21,0%). Os adultos (20 a 59 anos) apresentaram as maiores porcentagens de entorses/luxações (11,8%; p<0,00). Das vítimas de queda somente 19,8% receberam alta após o atendimento sem necessitar de algum tipo de procedimento adicional. Destaca-se que 72,7% da amostra realizou algum tipo de exame diagnostico complementar, 7,7% necessitou de internação e 5,3% fizeram cirurgia. A duração média da internação foi de 6,3±4,5 dias. A necessidade e o tempo de internação significativamente aumentaram (p<0,00) com o aumento da faixa etária. Seis vítimas de queda participantes do estudo foram a óbito. Na estimativa dos custos verificou-se que a realização de exames diagnósticos complementares representou um custo adicional médio de R$ 19, 26 (+14,04) por paciente. O custo médio de internação por indivíduo foi de R$ 1.564,82. Os resultados mostram que as quedas se caracterizam como um importante problema de saúde pública para o município e região. Considerando-se as consequências das quedas para a saúde e qualidade de vida das pessoas, e os custos para o poder público, ressalta-se a necessidade de uma maior atenção por parte dos profissionais de saúde no que concerne ao planejamento e implantação de ações que visem a redução desse tipo de episódio principalmente voltadas para crianças e idosos. Destaca-se ainda que uma abordagem ampla e resolutiva para essa questão extrapola o setor saúde exigindo um comprometimento intersetorial.

TEXTO COMPLETO DA DISSERTAÇÃO