Tese - Milena de Oliveira Simões

CONSUMO ALIMENTAR DE GESTANTES ADOLESCENTES E RETENÇÃO DE PESO PÓS-PARTO: UM ESTUDO DE COORTE

Autor: Milena de Oliveira Simões (Currículo Lattes)

Resumo

De acordo com a literatura a gravidez na adolescência, está associada a maiores riscos não só para o concepto como também para a saúde materna. Porém, condições que foram fortemente estudadas em gestantes adolescentes nas últimas décadas como ganho de peso gestacional insuficiente, prematuridade e baixo peso ao nascer, atualmente, devido a mudança nos hábitos alimentares e no estilo de vida da população, têm sido alteradas por maiores ocorrências de ganho de peso gestacional excessivo, inadequada ingestão de nutrientes e um quadro de estado nutricional em sobrepeso ou obesidade após o período gestacional. Neste sentido, o consumo alimentar materno mostra-se como um fator importante na saúde futura das mães e dos seus recém-nascidos, fazendo com que a nutrição adequada seja decisiva para o curso gestacional e seu desfecho. Assim, o objetivo dessa tese foi identificar a qualidade do consumo alimentar durante gestação e no pós-parto de mães adolescentes e a presença de retenção de peso quatro meses após o parto, bem como seus fatores associados. Os desfechos estudados estão descritos no formato de produção científica, composta por dois artigos. O artigo um (1) avaliou o consumo alimentar através da adequação energética, de macronutrientes e de grupos alimentares, em uma coorte de mães adolescentes durante o período gestacional e nos quatros meses após o parto. Trata-se de um estudo longitudinal do tipo coorte prospectiva no qual foram realizadas entrevista em até 48 horas pós-parto em todas as maternidades de Governador Valadares, Minas Gerais e, quatro meses pós-parto, entrevista domiciliar, de outubro de 2018 à fevereiro de 2020. Das 367 mães adolescentes entrevistadas nas maternidades, as características predominantes foram: idade entre 18 e 19 anos (58,0%), raça/cor parda (78,5%) e escolaridade acima de nove anos de estudo (58,6%). Verificou-se menor consumo energético após o parto (3748 vs. 2977 kcal pós-parto), no entanto semelhante distribuição dos macronutriente nos dois períodos: carboidratos, 559 vs. 439 g; proteínas, 148 vs. 125 g; e lipídeos, 102 vs. 80 g. Sobre a contribuição percentual energética dos grupos alimentares, aos quatro meses pós-parto, houve uma queda no consumo de frutas (6,57 vs. 4,14% pós-parto), leite e derivados (7,21 vs. 5,80% pós-parto), com predominância do grupo cereais raízes e tubérculos (25,3 e 24,8%), açúcares e doces (24,5 e 25,0%) e de alimentos ultraprocessados (35,4 e 32,5%) na gestação e no pós-parto respectivamente. Menor idade e escolaridade, multiparidade e tabagismo foram alguns dos fatores associados à inadequação do consumo alimentar (p<0,05). O artigo aponta a grande vulnerabilidade em que as mães adolescentes estão inseridas, evidenciando a necessidade de pré-natal precoce com orientações voltadas à importância da qualidade alimentar não somente durante gestação, bem como após o parto. Na sequência, o artigo dois (2) avalia a retenção de peso quatro meses após o parto no mesmo grupo de mães adolescentes e sua associação a fatores sociodemográficos, reprodutivos, antropométricos e comportamentais. No quarto mês, 317 mães foram avaliadas e a incidência de retenção de peso foi de 79,4% (n=247) com média de 6,86 kg ± 5,34. Maiores médias de retenção de peso foram observadas em mães com menor escolaridade (β = -0,38 kg; p=0,028), maior número de filhos (β = 1,41 kg; p=0,025), com consumo diário de ultraprocessado(s) na gestação (β = 1,38 kg; p=0,025), sem recebimento de orientação nutricional também durante a gestação (β = -1,25 kg; p=0,019), maior Índice de Massa Corporal pré-gestacional (β = 0,18 kg; p=0,001) e maior ganho de peso gestacional (β = 0,64 kg; p=<0,001). Em conclusão, a incidência de retenção de peso foi elevada, ressaltando a importância de um cuidado pré-natal que inclua educação nutricional, em especial a este grupo de alta vulnerabilidade. Os dados da presente tese contribuem para o conhecimento do contexto da gestação na adolescência, dos hábitos alimentares dessas mães e consequente estado nutricional, fornecendo subsídios no âmbito epidemiológico e de fomento de políticas de saúde pública dirigidas às gestantes adolescentes.

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