Tese - Ana Júlia Reis

EFLUXO E RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS EM CEPAS DO COMPLEXO Mycobacterium abscessus

Autor: Ana Júlia Reis (Currículo Lattes)

Resumo

Os membros do complexo Mycobacterium abscessus (CMAB) têm sido considerados os mais patogênicos dentre as micobactérias de crescimento rápido e estão associados a altas taxas de resistência a antibióticos (ATB) de diferentes famílias e estruturas químicas. O efluxo, que atua realizando o transporte ativo de compostos de dentro para fora das células, por meio de proteínas de membrana celular denominadas de bombas de efluxo, é um dos mecanismos envolvidos na resistência aos ATB em cepas do CMAB. Tem sido postulado que inibidores de efluxo (IE) poderiam ser utilizados como adjuvantes na terapia para infecções causadas pelo CMAB, potencializando a atividade dos ATB que são substratos de bombas de efluxo. O objetivo desta tese foi avaliar a relação do mecanismo de efluxo com a resistência aos ATB em cepas do CMAB. Realizou-se um estudo transversal, incluindo 26 cepas do CMAB, provenientes de amostras pulmonares e previamente identificadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2007 a 2017. Primeiramente foi realizada a confirmação molecular da identificação das subespécies do CMAB através da amplificação do gene erm(41) e do sequenciamento parcial dos genes hsp65 e rpoB. Na sequência, foram realizados experimentos para a determinação da concentração mínima inibitória (CMI) de amicacina (AMI), ciprofloxacina (CIP), claritromicina (CLA), verapamil (VP), tioridazina (TZ) e ácido úsnico (AUS). Todas as cepas sensíveis a CLA até o quinto dia de incubação, foram avaliadas para resistência induzida a este ATB, com períodos de incubação de até 14 dias. Posteriormente, ensaios modulatórios foram realizados para avaliar o efeito dos IE na redução da CMI de CIP e CLA. Entre as cepas avaliadas, 57,7% (15/26) foram identificadas como M. abscessus subsp. abscessus, 30,8% (08/26) como M. abscessus subsp. massiliense e 11,5% (03/26) como M. abscessus subsp. bolletii. Quando avaliado o perfil de sensibilidade das cepas frente aos ATB, apenas uma cepa (3,8% - 1/26) foi resistente a AMI, 69,2% (18/26) das cepas foram resistentes a CIP e 57,7% (15/26) foram resistentes a CLA. Entre as cepas resistentes a CLA, 86,7% (13/15) tornaram-se resistentes após exposição prolongada ao ATB. Além disso, 80% (12/15) das cepas resistentes a CLA foram classificadas como M. abscessus subsp. abscessus e 20% (03/15) como M. abscessus subsp. bolletii. O AUS apresentou atividade antimicrobiana para 100% das cepas, com CMI ≤ 50 μg/mL. Na avaliação do mecanismo de efluxo, 38,9% (07/18) e 80% (12/15) das cepas resistentes a CIP e a CLA, respectivamente, apresentaram fator modulatório significativo (≥4) para pelo menos um dos IE avaliados.Destaca-se que, 22,2% (04/18) das cepas resistentes a CIP e 53,3% (08/15) das cepas resistentes a CLA apresentaram CMI de cepas sensíveis a estes ATB após a associação com os IE. Nossos resultados enfatizam a importância da correta identificação da subespécie do CMAB envolvida na infecção e da determinação do perfil de sensibilidade frente aos ATB, já que este apresenta variações entre as subespécies do complexo. Além disto, observamos que o efluxo pode estar envolvido na resistência, e na suposta indução deste mecanismo pelos ATB. Os três IE avaliados reduziram os níveis de resistência de cepas do CMAB frente a CIP e CLA, o que instiga o avanço em estudos que avaliem compostos IE como adjuvantes para o tratamento de infecções causadas por este grupo de micobactérias.

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