Atividade antifúngica in vitro do Ebselen frente a Sporothrix SSP
Autor: Diulien Canary de Lima (Currículo Lattes)
Resumo
A esporotricose é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença mundialmente negligenciada, e está em crescimento exponencial desde a década de 90, quando casos esporádicos passaram a ser surtos em diversas regiões do país e do mundo, tomando um caráter de hiperendemia que cresce até os dias de hoje. Frente à emergência da esporotricose e a escassez de antifúngicos disponíveis para seu tratamento, há necessidade de busca de novas alternativas terapêuticas para esta micose. Diante desta problemática, com o intuito de alcançar terapias eficazes o reposicionamento de fármacos se torna uma opção atrativa exigindo menor tempo e custo mais acessível, uma vez que várias etapas pré-clínicas, como farmacocinética, farmacodinâmica e toxicidade, já são conhecidas. Na busca por opções com esse perfil, o ebselen se torna um alvo vantajoso, por se tratar de um organoselênio aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) que tem demonstrado atividade antimicrobiana frente a bactérias, cepas fúngicas leveduriformes e filamentosas tanto in vitro quanto in vivo. Este estudo objetivou avaliar o ebselen in vitro quanto às suas potencialidades anti-Sporothrix, de forma isolada e em associação com itraconazol. Foram utilizados 25 isolados de Sporothrix, incluindo S. schenckii, S. globosa e S. brasiliensis, previamente identificados por biologia molecular, provenientes do acervo do Laboratório de Micologia da FAMED-FURG. Para a avaliação da suscetibilidade antifúngica in vitro do composto utilizado foram empregadas duas técnicas: A técnica de microdiluição em caldo, avaliando a capacidade do composto em isolado e o ensaio de Checkerboard, para compreender a interação entre o composto ebselen e o fármaco de eleição para o tratamento da esporotricose, o itraconazol. A partir da técnica de microdiluição em caldo foi verificada a concentração inibitória mínima (CIM) do ebselen entre 32 µg/ml e 0,5 µg/ml e a concentração fungicida mínima (CFM), ou seja, a menor concentração do composto capaz de inibir o crescimento e matar os isolados de Sporothrix spp.. Já na interação do composto com itraconazol, foram avaliadas as concentrações de ebselen entre 32 µg/ml e 0,5 µg/ml e ITZ entre 8 µg/ml e 0,03 µg/ml. O ebselen apresentou ação fungistática anti- Sporothrix, inibindo o crescimento in vitro de 50% e 100% do crescimento fúngico em 100% e 84% dos isolados em concentrações menores que 32 µg/ml, respectivamente. Ação fungicida foi observada em menos de 10% dos isolados, e antagonismo com itraconazol ocorreu frente a todos os isolados testados. Entretanto, em 25% dos isolados uma reação dupla foi observada, com antagonismo junto ao itraconazol em concentrações mais altas e sinergismo em concentrações mais baixas de Eb. Em conclusão, nossos resultados são pioneiros em demonstrar a atividade do Eb contra Sporothrix sp. ampliando seu possível espectro de ação antifúngica já demonstrado por outros autores. Portanto, haja vista as grandes vantagens do reaproveitamento de fármacos em que o Eb está incluído, e visando o desenvolvimento de novas opções eficazes, seguras e com menor custo para o enfrentamento desta epidemia de proporção mundial, o Eb apresenta potencial como terapia de forma isolada, mais estudos adicionais são necessários para confirmar sua eficácia em modelo in vivo contra Sporotrhix sp.