Tese - Lurdeti Bastos da Silva

Criptococose em um centro de referência em HIV-AIDS no extremo sul do Brasil

Autor: Lurdeti Bastos da Silva (Currículo Lattes)

Resumo

Introdução: A incidência global dos casos de meningite criptocócica abrange 223.100 pessoas/ano, com a estimativa de 6% dos pacientes com contagem de TCD4+<100células/mm³ apresentando antigenemia criptocócica (CrAg). Na América Latina, o Brasil e a Colômbia se destacam pelo maior número de casos notificados (1001-2.500 casos). Considerando a gravidade da Criptococose (Cr) para tais pacientes e a alta prevalência do HIV-AIDS no Rio Grande do Sul, onde o município do Rio Grande se destaca como primeiro colocado no ranking nacional em taxas de detecção do HIV-AIDS, este estudo teve como objetivo traçar o perfilclínico, epidemiológico da criptococose em pacientes HIV/AIDS atendidos no Serviço de Referência Regional do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande (SAEHU- FURG). Material e Métodos: Trata-se de estudo retrospectivo que abrange todos os casos de Cr diagnosticados no período de janeiro de 2010 a dezembro de 2016. Foram considerados casos de Cr os pacientes com titulação acima de 1:8 em soro ou líquor (LCR) no teste de aglutinação do látex para detecção de antígeno criptocócico e/ou aqueles com isolamento de Cryptococcus sp. em cultivo micológico de amostras clínicas como: líquido cefalorraquidiano (LCR), lavado broncoalveolar (LBA), liquido pleural (LP) e/ou hemocultura. Ainda foram investigados, neste estudo, os casos de coinfecção com Cr e Tuberculose (TB) nestes pacientes, cujo diagnóstico da TB foi comprovado por microscopia com Ziehl Neelsen e / ou cultura líquida em BACTECTM MGITTM 320 com confirmação de M. tuberculosis por PCRIS- 6110. Resultados: O estudo evidenciou 70 casos de Cr, cujo C. neoformans foi o agente etiológico da totalidade dos casos em que o cultivo foi (n=44). A maioria dos pacientes era do sexo masculino (74,3%) e a idade média foi de 39,9 anos (20 - 78) (DP=11,4). Neurocriptococose foi a principal apresentação clínica, abrangendo 84,3% dos casos. A presença de comorbidades associadas a coinfecção Cr/HIV-AIDS foi evidenciada em 43% (n=30/70) dos , . A Cr foi condição definidora da AIDS em 40% (n=28/70) dos pacientes e a taxa média de TCD4 foi de 73 cel/mm³ (2-447 cel/mm³) (DP=98,8) com detecção da carga viral 50.000 cópias/mm³ em cerca de 75% dos pacientes. A mortalidade foi de 52,9% (37/70) e, para estes pacientes cuja doença foi fatal, a expectativa de vida foi em média de 81,8 dias (2- 930) (DP=168,7), a partir do primodiagnóstico da doença. A detecção de CrAg ocorreu em 92,5% (n=62/67) dos pacientes avaliados, com mais de 65% destes apresentando título 1:1024. O cultivo micológico apresentou 100% (44/44) de positividade. Ainda neste estudo, casos da coinfecção Cr/TB/HIV-AIDS foram investigados, considerando o período de 3 anos, a contar de Janeiro de 2010 a Dezembro de 2012. Nesse período, 10 casos da tripla coinfecção foram descritos, cuja idade média dos pacientes foi de 39,3 anos(28-56) (DP= 9.5), sendo que, 80% dos casos foram do sexo masculino. Neurocriptococose e TB pulmonar ocorreram em 40% dos casos e a associação de Cr pulmonar e TB pulmonar em 30%. Os outros casos foram: TB pulmonar e TB ganglionar (n = 01), meningite por Cr e TB ganglionar (n = 01) e meningite criptocócica e tuberculosa (n = 01). A média da taxa de TCD4 + foi de 118,6 cel / mm³ (DP = 135,36) com 80% dos pacientes mantendo TCD4 + <100 células / mm3. A carga viral apresentada por 70% dos pacientes foi igual ou superior a 100.000 cópias / mm³. Quatro pacientes (40%) morreram em média 29 dias (DP = 8,75) após o diagnóstico de coinfecção Cr/TB/HIV-AIDS. Conclusão: O estudo relatou uma série de casos de Cr nos usuários do SAE-HU-FURG, evidenciando a alta prevalência e letalidade, revelando ainda a ocorrência de casos da tripla coinfecção Cr/TB/HIV-AIDS como um fator de pior prognóstico clínico, evidenciando a grave condição de imunossupressão dos pacientes coinfectados. Portanto, se torna urgente a ampliação dos investimentos em prevenção e otimização do diagnóstico tanto para o HIV-AIDS quanto para Cr e TB.

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Palavras-chave: EpidemiologiaCoinfecçãoCryptococcus neoformansInfecções oportunistas