Tese - Mariane Pergher Soares

Estudo longitudinal da saúde bucal de idosos residentes na área rural de Rio Grande/RS

Autor: Mariane Pergher Soares (Currículo Lattes)

Resumo

O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento populacional demandam a necessidade de maiores conhecimentos acerca das condições de saúde e morbidades características desta população. As condições de saúde bucal têm parte importante na saúde e qualidade de vida de idosos e necessitam a compreensão para a atuação dos profissionais e das políticas públicas destinadas a essa população. Este estudo longitudinal, de base populacional, teve como objetivo descrever longitudinalmente desfechos relacionados à saúde bucal de idosos residentes em área rural, sendo estes desfechos a incidência de perda dentária e o impacto da saúde bucal na qualidade de vida. Esta pesquisa integra a coorte "Epi Rural: Estudo longitudinal da saúde dos idosos da área rural do Rio Grande, RS", o qual teve coleta de dados realizada em três momentos: estudo de linha de base, primeiro acompanhamento e segundo acompanhamento. O estudo de linha de base foi realizado em 2017, quando foram entrevistados 1029 idosos. Em 2018/2019 foi realizado o primeiro acompanhamento, onde foram entrevistados 863 idosos, representando 83,9% da amostra da linha de base. O segundo acompanhamento iniciando em novembro de 2020 e conclusão em janeiro de 2022, onde foram entrevistados 651 idosos. O intervalo amplo de coleta de dados do segundo acompanhamento se justifica por ter ocorrido no período de pandemia de COVID19, sendo necessário adotar medidas de prevenção e redução de riscos, como interrupções nos períodos de pico. Os dados foram obtidos através de entrevistas com os idosos nos seus domicílios, utilizando um questionário estruturado. As entrevistas foram realizadas por entrevistadoras treinadas, utilizando dispositivo eletrônico (tablet). Para a análise da incidência de perda dentária, foram incluídos no estudo 208 indivíduos, os quais possuíam pelo menos um dente no início do estudo, e foram acompanhados no segundo acompanhamento. A perda dentária foi calculada pela diferença entre o número de dentes relatados pelos entrevistados nos dois períodos. O desfecho utilizado foi numérico contínuo, sendo o número de dentes perdidos no período. Também foi descrita a perda de maneira dicotomizada, sendo considerada a perda de pelo menos um elemento dentário, e também a mudança quanto a categorias de dentição no período (dentição funcional, perda moderada, perda severa e edentulismo). Foi realizada análise multivariada que identificou os principais fatores associados à incidência da perda dentária no período. Para investigar o impacto da saúde bucal na qualidade de vida e os fatores associados foi utilizado o questionário Oral Health Impact Profile-14 (OHIP14). O desfecho escolhido foi a severidade do impacto, através do escore OHIP. Para avaliar a vulnerabilidade foi utilizado o Vulnerable Elders Survey (VES-13) Em relação à perda dentária, foi observado que na linha de base, 50% dos idosos já não possuíam dentes. Daqueles que ainda possuíam dentes e que foram acompanhados (n=208), 73,6% perderam pelo menos 1 elemento dentário. O número de dentes perdidos por indivíduo no período variou de 0 a 22. A média de dentes perdidos foi de 3,35 (SD ±4,10). A análise multivariada demonstrou associação de maior número de dentes perdidos com o consumo de álcool (RP 1,62 IC95%1,03-2,52) e ter consultado com dentista nos últimos 12 meses anteriores à entrevista (RP 1,39 IC95% 1,01-1,91). A escolaridade também apresentou influência no desfecho, sendo observada maior perda naqueles indivíduos que possuíam entre 1 e 4 anos de estudo (RP 2,07 IC95%1,18-3,66) e 5 a 8 anos (RP 2,37 IC95% 1,29-4,35). Já o sexo feminino apresentou fator de proteção para perda dentária (RP 0,68 IC95% 0,47-0,88). Quando avaliada a qualidade de vida relacionada à saúde bucal, o score OHIP variou de 0 a 42, tendo sido a média de 3,27 (DP 6,07). As maiores médias de scores foram observadas nas dimensões dor física e desconforto psicológico. A análise multivariada demonstrou menor severidade do impacto da saúde bucal na qualidade de vida nos idosos com mais de 70 anos de idade (RP 0,71 IC95% 0,55-0,97). Impactos mais severos foram observados naqueles idosos vulneráveis (RP 1,59 IC95% 1,21-2,09) e que tiveram consulta com dentista no último ano (RP 1,73 IC95% 1,28-2,35). A incidência de perda dentária ainda permanece como um relevante um problema de saúde a ser estudado, especialmente considerando o envelhecimento progressivo da população e os fatores que contribuem para esse desfecho. Também é importante buscar condições para um envelhecimento com qualidade de vida. A partir deste estudo foi possível identificar especificidades referente à população idosa residente em área rural, e foi possível observar uma certa lacuna a ser explorada em relação ao conhecimento do perfil e condições de saúde específicos desta população, que necessita de maior atenção para elaboração de estratégias de intervenção e políticas públicas, considerando o perfil e área de residência.

TEXTO COMPLETO DA TESE

Palavras-chave: Saúde bucalIdososZona ruralQualidade de vidaPerda dentária