Ansiedade, depressão e ideação suicida em gestantes de alto risco do extremo sul do Brasil
Autor: Mariana Gauterio Tavares (Currículo Lattes)
Resumo
A gravidez é um importante evento na vida da mulher, acompanhado por mudanças fisiológicas e psicológicas e associado a um maior risco de sofrimento emocional. Em gestantes de baixo risco, encontra-se uma prevalência de ansiedade entre 15,2% e 26,5%, de depressão entre 18,1% e 30,1% e, de ideação suicida, entre 5,2% e 19,8%. No entanto, em gestantes de alto risco, encontram-se na literatura prevalências superiores, sendo de ansiedade entre 16,3% e 79,7%, e de depressão entre 37,5% e 59,5%. A prevalência de ideação suicida entre gestantes que vivem com HIV é de 8,2% a 39%. A presença de ansiedade e depressão aumentam os riscos para gestantes e o feto ou recém-nascido, pois estão associadas com: pré-natal inadequado; parto prematuro; baixo peso; dificuldades na relação mãe/bebê; entre outras complicações. Por isso, foram construídos dois artigos. Os objetivos do primeiro artigo foram avaliar a prevalência de depressão e ideação suicida em gestantes de alto risco de um ambulatório especializado, localizado do extremo sul do Brasil, bem como identificar possíveis fatores associados a estes desfechos. Já o segundo artigo teve como objetivo avaliar a prevalência de ansiedade-traço e ansiedade-estado nesta mesma população, além de identificar possíveis fatores associados aos desfechos. A coleta de dados de ambos os estudos foi realizada entre setembro de 2022 e abril de 2023, com todas as gestantes que ingressaram no ambulatório durante o período da pesquisa, obtendo-se uma amostra do tipo censo. Participaram da pesquisa 217 gestantes de alto risco que responderam ao questionário sociodemográfico, clínico e de hábitos, Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS) e Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE). Apesar de 232 grávidas serem consideradas elegíveis para participação na pesquisa, ocorreram 14 recusas e 03 perdas. O cálculo amostral foi realizado no Software Epi Info 7.2.5.0 e a análise dos dados no Stata 15.0. A análise ajustada obedeceu a um modelo hierárquico previamente definido, utilizando o método de backward. Referente ao primeiro artigo, foram calculadas as razões de prevalência, IC de 95% e qui quadrado de Pearson. Na análise ajustada foi utilizada Regressão de Poisson. A prevalência de depressão e de ideação suicida foi de 40,5% e 20%, respectivamente. Foram identificadas associações entre o aumento de depressão e cor de pele parda e preta (RP: 1,09; IC95%: 1,01-1,19), histórico de doença mental (RP: 1,18; IC95%: 1,07-1,36), suporte social considerado como bom (RP:1,19; IC95%: 1,05-1,36) e suporte social considerado mediano ou ruim (RP:1,34; IC95%: 1,20-1,51). Foram encontradas associações entre maior prevalência de ideação suicida e gestação não planejada (RP 1,03; IC95%: 1,01-1,06), viver com HIV (RP 1,17; IC95%: 1,02-1,34), história pessoal de doença mental (RP: 1,15; IC95%: 1,06-1,23), suporte social bom (RP: 1,16; IC95%: 1,06-1,29), e suporte social percebido como mediano ou ruim (RP: 1,17; IC95%: 1,07-1,29). Referente ao segundo artigo, foram calculadas as médias e IC de 95% com ANOVA, posteriormente sendo utilizada Regressão Linear na análise ajustada. Foi encontrada uma prevalência de ansiedade-estado de 59,1% e de ansiedade-traço de 63,8%. O suporte social muito bom esteve associado à menores médias de ansiedade-estado em comparação com o suporte social bom (M: -8,70: IC95%: -12,83; -4,58) e com o suporte social mediano ou ruim (M: -3,59; IC95%: -7,80; 0,62). Em relação à ansiedade-traço, ter escolaridade 13 anos (M: -3,69; IC95%: -7,07; -0,32), apoio social muito bom (M: -8,42; IC95%: -12,51; -4,34; M: -3,45; IC95%: -7,58; 0,68) e não estar em tratamento de doença mental (M: -4,6; IC95%: -8,69:-0,37) estiveram associados à menores médias, enquanto gestação não planejada (M: 3,28; IC95%: 0,04; 6,51) e história de doença mental (M: 5,27; IC95%: 2,00; 8,54) foram associados à maiores médias de ansiedade-traço. Entre os principais resultados dos estudos, destaca-se a necessidade de planejamento familiar, que foi identificado como uma importante estratégia no que se refere à saúde mental dessas mulheres; a influência do temperamento anterior à gestação e; a importância de se valorizar a ampliar as redes de apoio, pois autopercepção de suporte social mediano/ruim foi a única variável que esteve associada aos quatro desfechos. Dessa forma, aponta-se para a importância de triagem psicológica nos serviços especializados como estratégia de prevenção ao agravamento dos sintomas emocionais associados à gestação.