Análise dos casos de tuberculose em pessoas vivendo em situação de rua em um município do extremo sul do Brasil

Autor: Stálin Santos Damasceno (Currículo Lattes)

Resumo

A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que é transmitida por via respiratória, através de aerossóis expelidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com TB ativa. A incidência dessa doença permanece elevada, ganhando impulso onde as desigualdades sociais se fazem mais presentes. Neste contexto, o controle da TB na população em situação de rua (PSR) é mais complexo, quando comparado a população em geral. Entre outros fatores, os determinantes sociais impactam diretamente no processo saúde-doença, visto que são pessoas que vivem em pobreza extrema, em fragilidade social, com vínculos familiares interrompidos, fazendo com que utilizem-se dos espaços públicos para suas moradias. Dada essa circunstância, a PSR possui 56 vezes mais risco de adoecimento por TB, quando comparado a população em geral, no Brasil. Neste contexto, o objetivo desde estudo foi analisar os casos de TB notificados na PSR, no município do Rio Grande, Rio Grande do Sul (RS), no período de 2017-2022. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e retrospectivo. As notificações de TB na PSR no período do estudo, bem como, os dados sociodemográficos e clínicos dos pacientes foram obtidos por meio das fichas do SINAN disponibilizados pelo Programa Municipal de Controle da Tuberculose do município do Rio Grande. Os dados coletados foram tabulados em uma planilha do programa Microsoft Excel 2016 e, posteriormente, no programa Statistical Software For Data Science (STATA), foi realizada a análise estatística descritiva por meio de frequências absoluta e relativa (percentual). Este trabalho consistiu em um recorte de uma pesquisa maior que já havia sido aprovada pelo Núcleo Municipal de Educação em Saúde Coletiva (NUMESC) de Rio Grande, com parecer de nº 22/2022, e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande sob parecer número 5.501.125. Foram analisadas 105 notificações provenientes de 58 pacientes com TB vivendo em situação de rua. Diante da análise descritiva, observou-se ascendência de indivíduos de raça/cor branca (57,9%), seguida da raça/cor preta (25,9%), um predomínio de indivíduos do sexo masculino (72,4%) e a média de idade foi 40 anos. Observou-se ainda que, a maioria dos indivíduos apresentava algum agravo e/ou doença (96,5%) associado à TB. No que concerne ao HIV, foi possível observar que quase a metade da amostra (48,3%) era HIV positiva. Verificou-se também que 50% dos pacientes faziam uso de álcool e 74,1% uso de drogas ilícitas. Além disso, mais da metade da amostra (60,3%) era fumante. Com relação a TB, o tipo de entrada mais prevalente foi o reingresso após abandono (36,1%) e o desfecho de tratamento desfavorável (abandono ou óbito) foi predominante (78,1%). Ademais, do total de pacientes, 6,9% receberam algum tipo de benefício social. Portanto, a implementação de medidas que abordem não apenas o tratamento da TB, mas também os determinantes sociais da saúde, pode contribuir significativamente para a redução da incidência e melhoria da qualidade de vida dessa população vulnerável. Este estudo, ao proporcionar uma visão sobre a epidemiologia da TB entre a PSR, oferece uma base importante para futuras pesquisas e para o desenvolvimento de estratégias de intervenção direcionadas, com o objetivo de mitigar os impactos da TB em um dos grupos mais vulneráveis da sociedade.