Dissertação - Niely Galeão da Rosa Moraes

Disparidades étnico-raciais em intoxicações exógenas no Brasil

Autor: Niely Galeão da Rosa Moraes (Currículo Lattes)

Resumo

No Brasil, as desigualdades étnico-raciais existem em todos os campos, obstruindo o acesso a bens, serviços e oportunidades, incluindo os serviços de saúde. Estudos já demonstraram a disparidade étnico-racial em intoxicações por medicamentos, agrotóxicos e drogas de abuso, mas em outros países em escala hospitalar e relacionado com o seguro saúde do indivíduo; e estudos nacionais que traçam o perfil epidemiológico de intoxicações a nível de estado. Ainda são inexistentes estudos que avaliem, a nível nacional, as disparidades étnico-raciais de intoxicações exógenas, enfatizando a cor de pele como fator determinante, além de relacionar com indicadores sociais. Por isso, o objetivo do estudo foi examinar a relação entre raça/etnia e as intoxicações exógenas gerais, por medicamentos, por agrotóxicos e por drogas de abuso nas diferentes unidades federativas brasileiras. Os dados de intoxicação foram extraídos do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) e do IBGE, nos anos de 2017, 2018 e 2019. Foram coletados dados de notificação de intoxicações exógenas em geral e pelos agentes tóxicos: medicamentos, agrotóxicos (de uso agrícola, de uso doméstico, de saúde pública, raticidas e produtos veterinários) e drogas de abuso. Os dados foram categorizados entre brancos e não-brancos (pretos, pardos e indígenas) e sem informação da cor da pele/etnia. Além de dados de IDH - Índices de Desenvolvimento Humano de cada estado (Atlas, Brasil) terem sido coletados para posteriormente ser realizada uma análise de correlação com as taxas de intoxicação. Foram calculadas taxas de intoxicações dos grupos étnico-raciais e cor de pele ignorada bem como o risco relativo de intoxicação entre não-brancos. Todos os estados das regiões norte, nordeste (estados com os piores Índices de Desenvolvimento Humano) e centro-oeste e 2 estados do sudeste tiveram maiores taxas de intoxicações exógenas por 100 mil habitantes. Os valores de risco relativo para pessoas não-brancas foram maiores nas regiões norte e nordeste para todos os tipos de intoxicações. O tipo de intoxicação exógena que apresentou dados mais alarmantes de risco relativo de não-brancos nos três anos, foi drogas de abuso (2,00-2,44), quando comparamos aos outros tipos de intoxicações de agrotóxicos (2,00-2,33) e medicamentos (1,50-1,91). A distribuição espacial das taxas de intoxicações exógenas e do risco relativo da população não-branca pode subsidiar políticas públicas para diminuir as desigualdades socioeconômicas e ambientais. Ressalta-se que é necessário adotar medidas para garantir a diminuição das subnotificações das fichas de notificações, ou seja, as que continham a opção do grupo étnico-racial ignorado, contribuindo com informações mais precisas sobre a realidade dos casos de intoxicações exógenas.

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Palavras-chave: Desigualdades em saúdeEtniaDiscriminaçãoIntoxicação