Investigação de infecção fúngica invasiva em pacientes coinfectados tuberculose/HIV atendidos em um hospital no extremo sul do Brasil
Autor: Rejane Roncaglio (Currículo Lattes)
Resumo
A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, sendo até a pandemia da covid-19 emergir, a principal causa de morte por um único agente infeccioso. A TB e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) representam grandes problemas de saúde pública no mundo, em conjunto, elas correspondem à altos índices de morbidade e mortalidade. A supressão do sistema imunológico, resultante destas duas doenças, predispõe ao desenvolvimento de novas infecções oportunistas, como as infecções fúngicas (IFs). A coinfecção TB/HIV quando associada as IFs e quando não diagnosticadas e tratadas precocemente, podem corresponder a piora do prognóstico do paciente e ao aumento da mortalidade. Neste sentido, este trabalho objetivou determinar a frequência de investigação de infecção fúngica invasiva (IFI) em pacientes coinfectados TB/HIV, identificar a IFI mais frequente e avaliar as características clínicas e epidemiológicas dos pacientes TB/HIV/IFI atendidos em um Hospital Referência para HIV/aids. Trata-se de um estudo retrospectivo que utilizou dados secundários de pacientes atendidos no Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU-FURG/Ebserh), no município do Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2022. Foram incluídos no estudo todos os pacientes com diagnóstico de TB/HIV e que realizaram investigação para presença das seguintes IFIs: aspergilose, histoplasmose e criptococose. A coleta dos dados da TB foi realizada no Laboratório de Micobactérias da Universidade Federal do Rio Grande, enquanto a coleta dos dados das IFIs foi realizada no Laboratório de Micologia da mesma Universidade, e também, no Laboratório de Análises Clínicas e no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) em Infectologia do HU-FURG/Ebserh. O resultado do diagnóstico positivo do HIV foi coletado nos prontuários eletrônicos do SAE em Infectologia do HU-FURG/Ebserh. Os dados clínicos e epidemiológicos dos pacientes foram obtidos a partir dos prontuários fisicos e eletrônicos do HU-FURG/Ebserh. Dos 194 pacientes coinfectados TB/HIV, 151 (77,8%) foram investigados para presença de alguma IFI, sendo 16,7% (n=25) destes pacientes diagnosticados com IFI. A IFI mais predominante foi a criptococose (n=11), seguida da histoplasmose (n=10) e da colonização/infecção por Aspergillus (n=8). Importante mencionar que quatro pacientes apresentaram mais de uma infecção fúngica simultaneamente. Ao avaliarmos os pacientes TB/HIV/IFI, 72% eram do sexo masculino e a idade média foi de 40,4 anos. O caso novo foi o tipo de entrada de TB mais frequente (64%) e a cura foi o desfecho mais comum do tratamento da TB (44%). Contudo, ao compararmos a porcentagem de óbitos no grupo TB/HIV e TB/HIV/IFI, este foi maior naqueles com IFI (23,8% versus 32%). Ademais, foi observada uma média de linfócitos TCD4 menor nos indivíduos com IFI do que naqueles sem IFI (113,5 versus 200,6 linfócitos/mm3). Aproximadamente 80% dos pacientes TB/HIV/IFI apresentavam imunossupressão grave, o que aumenta o risco de desenvolver múltiplas infecções oportunistas e piora o desfecho, uma vez que, dos pacientes que foram a óbito, 62,5% apresentavam contagem de linfócitos TCD4 <50 células/mm3. Portanto, faz-se necessária a investigação concomitante de TB e IFIs, em pessoas que vivem com HIV, devido à piora do desfecho quando essas infecções estão associadas.