Aspergillus spp. DE AMBIENTE COSTEIRO: INFLUÊNCIA DE FATORES ABIÓTICOS NA TAXA DE ISOLAMENTO E SUSCEPTIBILIDADE ANTIFÚNGICA
Autor: Emília Ferreira Andrade (Currículo Lattes)
Resumo
Aspergillus é um gênero de fungos filamentosos ubíquos, presentes em diversos ecossistemas e reconhecido por atuar como patógeno oportunista de humanos, plantas e animais. Nas últimas décadas, relatos de resistência das cepas aos antifúngicos recomendados para uso terapêutico vêm aumentando, e o ambiente tem se mostrado importante nessas altas taxas. Acredita-se que uso de azol na agricultura induz a resistência cruzada aos medicamentos de mesma classe farmacológica, neste cenário, resíduos azólicos são escoados pelos efluentes e desembocam em estuários e oceanos, podendo exercer pressão de seleção aos isolados de Aspergillus spp. presente nesses ambientes costeiros. Portanto, o objetivo desta dissertação foi determinar a taxa de isolamento de Aspergillus spp. em amostras de água de um ecossistema costeiro e sua relação com características abióticas, e em adição, determinar o perfil de susceptibilidade antifúngica dos isolados à fármacos de eleição para tratamento da aspergilose. Para isso, foram coletadas mensalmente amostras de água em três sítios ambientais, localizados no (1) estuário médio da Lagoa dos Patos, (2) desembocadura da lagoa e (3) praia do Cassino em Rio Grande, RS - Brasil, durante 25 meses, sendo os parâmetros abióticos dos locais determinados em cada coleta. Os parâmetros abióticos entre os sítios de amostragem, frequência de coletas positivas de Aspergillus, seções e influência desses parâmetros no isolamento fúngico foram determinados, bem com a susceptibilidade antifúngica. Aspergillus spp. foi detectado em 44% das coletas (n=33/75) e totalizou 67 isolados, sendo eles 59.7% Fumigati, 22.3% Flavi e 17.9% Nigri. O sítio de coleta com maior taxa de Aspergillus spp. foi o estuário (39,4%) seguido da praia 36.4% e desembocadura da lagoa (24.2%), embora sem diferença estatística. Parâmetros como séston, oxigênio dissolvido e turbidez influenciaram no isolamento das seções de Aspergillus. A resistência foi encontrada em 3% (2/67) dos isolados, pertencentes à seção Nigri. Estudos de detecção e resistência de Aspergillus em ecossistemas aquáticos são raros na literatura. O presente trabalho demonstra que ambientes aquáticos podem servir como fonte de infecção, além de agregar dados dos parâmetros abióticos para Aspergillus spp. e relatar a presença de isolados resistentes em ambiente costeiro, provando a necessidade de vigilância e monitoramento ambiental frente a resistência fúngica.