Otimização e implementação sistemática do teste de antígeno urinário na investigação de histoplasmose em um hospital de referência no tratamento de HIV/AIDS
Autor: Bianca dos Santos Blan (Currículo Lattes)
Resumo
A histoplasmose disseminada (HD), micose sistêmica ocasionada pelo Histoplasma spp., caracteriza-se como uma das principais infecções oportunistas (IO) em pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA) sendo uma doença definidora de aids responsável por alta mortalidade. Embora seja uma IO frequente em PVHA em áreas endêmicas, trata-se de uma doença negligenciada e comumente confundida com a infecção por Mycobacterium tuberculosis. Desde 2020, a OPAS/OMS recomenda a utilização do teste de biomarcador urinário como padrão-ouro no diagnóstico de HD em PVHA. Rio Grande enfrenta um cenário preocupante frente a prevalência de HIV/aids e de IO. Almejando diagnosticar precocemente a HD, desde março de 2021 foi implementado no HU-FURG/EBSERH de forma sistemática a realização do teste padrão-ouro que utiliza o Ensaio imunoenzimático com detecção de Galactomanana de Histoplasma spp. (HGM-EIA, IMMY, Norman, Oklahoma, USA) em todas as PVHA com LTCD4+< 200 células/mm3, em abandono de tratamento ou com diagnóstico recente de HIV. Uma avaliação do cenário da HD após essa implementação do teste como screening para essa IO é de grande valia para comprovar sua eficácia e direcionar os grupos de maior risco de HD buscando a otimização do custo-benefício no local. O HGM-EIA implementado, permite a interpretação do resultado pela curva padrão - baseada em sete concentrações pré-definidas pelo fabricante, bem como a interpretação pelo calibrador, que utiliza apenas uma concentração de controle; esta última é almejada devido a um melhor rendimento do teste com possibilidade de redução nos custos. Porém, o ponto de corte definido pelo fabricante pode ser otimizado buscando minimizar falsos-negativos. Contudo, objetivou-se otimizar o teste HGM-EIA para diagnóstico de HD, e avaliar o impacto da implementação sistemática desse teste como rastreio de HD em PVHA em um hospital terciário do Extremo Sul do Brasil. O estudo incluiu todas as PVHA com HD no período de março de 2021 a setembro de 2022, avaliando variáveis clínico-epidemiológicas, e avaliou a performance do teste utilizando distintos pontos de corte para interpretação dos resultados. Testes estatísticos foram realizados para a análise dos resultados, utilizando o programa SPSS 24.0 (IBM® SPSS Statistics), considerados valores de p0,05 significativos. Os aspectos éticos foram respeitados (SEI nº 28/2022 e CEP-FURG nº 5.578.347). A otimização do HGM-EIA pelo calibrador permitiu definir o ponto de corte de 0,8 UEIA, a partir do qual obteve-se um aumento da sensibilidade do teste em 16%, com redução de apenas 1,25% na taxa de especificidade comparado ao ponto de corte do calibrador sugerido pelo fabricante, resultando em sensibilidade de 88% e especificidade de 98.7%. A prevalência de HD em PVHA foi de 9% (26/287), e resultou em um aumento em mais de 200% da taxa de diagnósticos desta IO e uma redução de 30% na taxa de mortalidade ao comparar esse resultado com o de estudos prévios (passando de 12 para 39 casos a cada 1.000 internações, e de 35% para 24% a taxa de mortalidade em 90 dias). O estudo pioneiro na otimização do HGM-EIA pelo calibrador, permitiu um melhor aproveitamento do teste, enquanto a sua implementação sistemática resultou em diagnósticos possivelmente precoces com melhor prognóstico, possibilitando tratamento por via oral sem necessidade de hospitalização, reduzindo casos graves de HD.