FUNCIONAMENTO FAMILIAR NA DEPENDÊNCIA QUÍMICA E RELAÇÃO DE APEGO: NECESSIDADES E RISCOS PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Autor: Diana Machado Rey (Currículo Lattes)
Resumo
A dependência de drogas é um fenômeno que atinge não somente o usuário, mas também o sistema familiar, geralmente alterando sua estrutura e o funcionamento de seus integrantes. Muitas vezes, os papéis ficam distorcidos, modificando a rotina familiar, podendo prejudicar o desenvolvimento dos membros em formação, principalmente as crianças. O presente estudo trata-se de pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, que foi desenvolvida com quatro crianças, filhos de dependentes químicos, de sete a doze anos. O objetivo do estudo foi conhecer a percepção das crianças sobre o funcionamento familiar e as relações de apego construídas com seus pais. Para a coleta dos dados, foi construído, juntamente com cada criança, o Genograma Familiar com base na entrevista semiestruturada. A leitura e interpretação dos dados foram realizadas à luz de alguns pressupostos da Teoria do Apego e da Teoria Sistêmica, e a partir da metodologia da Análise de conteúdo de Laurence Bardin. Emergiram seis categorias: Subsistema conjugal, Subsistema parental, Subsistema fraternal, Família ampliada, Funcionamento familiar e Relação de Apego. Segundo as crianças, as relações entre os pais são indiferente, sem manifestação de afetos, ou conflituosa com o uso da violência na resolução das questões familiares entre os cônjuges ou entre pais e filhos. Outros fatores relevantes dizem respeito à dificuldade dos pais em exercer seus papeis e práticas educativas efetivas na criação dos filhos, como também, a carência de afetividade existente em alguns sistemas. Os filhos referem suas relações com os pais como hostis, conflituosas, harmônicas ou amorosas. Porém, existem outros membros na família ampliada que podem exercer um papel importante em termos de prevenção e proteção da saúde biopsicossocial dessas crianças. Em duas famílias, essa figura foi considerada a avó e na outra, foram os irmãos. Os funcionamentos familiares foram classificados como desligado, emaranhado em processo de transformação e fortalecimento de fronteiras, ou não classificado em um dos padrões. Os tipos de apego manifestados foram seguro e inseguro-evitativo. Com base nos resultados, foi possível concluir que a essência do funcionamento familiar, diz respeito às formas de interação preferidas pelo sistema, e não exclusivamente ao fato dos familiares utilizarem álcool ou outras drogas. O uso de drogas, então, pode ser considerado como uma consequência do estilo de vinculação predominante no sistema, que prejudica seu funcionamento, e não como o fator desencadeante da rigidez do mesmo. No entanto, à medida que reforça a manutenção de estilos de relacionamento inadequados na família, dificultando as interações positivas e a adoção de padrões alternativos de funcionamento, o abuso de substâncias é um importante fator de risco para o desenvolvimento saudável dos membros, principalmente dos mais jovens. Portanto, a prevenção e a promoção da saúde também devem ser direcionadas ao sistema familiar, no qual os indivíduos interagem e não podem ser considerados a parte para a efetiva compreensão dos vínculos estabelecidos.
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