Tese - Livia Silveira Munhoz

ESPOROTRICOSE E Sporothrix brasiliensis: OCORRÊNCIA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E AVALIAÇÃO DO DISSELENETO DE DIFENILA EM MODELO MURINO

Autor: Livia Silveira Munhoz (Currículo Lattes)

Resumo

A esporotricose felina e zoonótica causada por Sporothrix brasiliensis apresenta um caráter hiperendêmico e emergente no Brasil. No Rio Grande do Sul (RS), um dos estados com maior número de casos documentados, relatos são oriundos apenas da região sul. A ausência na literatura científica da descrição da esporotricose por S. brasiliensis no restante do estado é um fator preocupante e limitante para o controle da situação epidemiológica. Em adição, a dificuldade de tratamento da esporotricose felina, contribui com disseminação do fungo intra e inter-espécies. Assim, diante da pouca disponibilidade de fármacos antifúngicos e das falhas terapêuticas já reportadas, a busca por novos compostos para auxílio no tratamento da esporotricose é urgente. O disseleneto de difenila [(PhSe)2] é um composto simples, estável e com promissora ação in vitro anti-S. brasiliensis. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo atualizar a situação epidemiológica da esporotricose no estado do RS (artigo/manuscrito 1) e avaliar o potencial terapêutico do (PhSe)2, de forma isolada e em associação com o fármaco de eleição, na esporotricose experimental por S. brasiliensis (artigo/manuscrito 2). Para elaboração do artigo/manuscrito 1 foi avaliada a ocorrência de casos da micose no estado a partir de questionários, bem como foi realizado um levantamento dos casos (animal e humano) da doença na região sul (2017-2021) e região metropolitana (Porto Alegre, 2016-2021). De tal modo pode-se demonstrar a ocorrência da esporotricose felina em todas as macrorregiões de saúde do RS, e salientar o agravamento da situação epidemiológica na região sul e na região metropolitana, comprovando que a mesma não encontra-se restrita, e sim amplamente distribuída por todo RS. Para o artigo/manuscrito 2, foi realizado experimento in vivo a partir da infecção por S. brasiliensis no coxim plantar de camundongos BALB/cJ, e posterior tratamento com três concentrações (1, 5 e 10 mg/kg) do (PhSe)2 e associação entre (PhSe)2 1mg/kg e itraconazol 50 mg/kg (ITZ), utilizando grupos controle (placebo e tratamento com ITZ), no período de 30 dias consecutivos, por via oral. A efetividade dos tratamentos foi determinada por dados clínicos, ensaio de sobrevivência, e avaliações micológica (quantificação da carga fúngica) e histológica (padrão de lesão tecidual). Foi possível demonstrar que o (PhSe)2 1 mg/kg reduziu a carga fúngica de forma semelhante ao ITZ, indicando promissora ação antifúngica do composto na forma isolada. Além disso, o grupo da associação [(PhSe)2+ ITZ] diferenciou-se positivamente do grupo ITZ, apresentando maior redução de carga fúngica bem como melhora dos parâmetros clínicos. Já as doses de 5 e 10 mg/kg de (PhSe)2 indicaram possível toxicidade, culminando na perda de peso, maior mortalidade e agravamento de sinais clínicos. Dosagens menores do (PhSe)2 devem ser consideradas, de forma isolada ou em associação com o ITZ, a fim de evidenciar seu pleno potencial terapêutico. Os dados apresentados na tese embasam e fundamentam o enfrentamento da esporotricose no grave contexto de saúde pública à nível nacional, estadual e municipal, demonstrando a importância e a necessidade da notificação compulsória de casos e de ações robustas em saúde pública a fim de conter a dispersão dessa enfermidade. Destaca-se ainda o pioneirismo na utilização do (PhSe)2, de forma isolada ou em interação ao fármaco de eleição, contra o S. brasiliensis em modelo murino, identificando potenciais dosagens com ação terapêutica e estimulando a busca por novas opções antifúngicas.

TESE - LIVIA MUNHOZ

Palavras-chave: AntifúngicosSelênioSporothrix sppModelo in vivoZoonosesDoença transmitida por gatos