Eficácia e segurança das aplicações do ácido tranexâmico em cirurgia cardíaca: uma revisão sistemática das revisões sistemáticas
Autor: Carlos Alberto Tomatis Loth (Currículo Lattes)
Resumo
As perdas sanguíneas e as transfusões alogênicas associadas a elas ainda são uma preocupação importante em cirurgia cardíaca, aumentando a morbimortalidade. A redução de ambas de forma segura e acessível sempre será um objetivo neste contexto. Visando isto, revisou-se a eficácia e a segurança do ácido tranexâmico (AT) avaliando seu uso tópico e sistêmico, nas populações adulta e pediátrica, submetidas a cirurgia cardíaca, em comparação ao placebo e outras drogas, considerando, para tal, a perda sanguínea perioperatória, a incidência e o volume de transfusões, além da incidência de complicações. Foram encontradas 634 publicações potencialmente relevantes a esta revisão ao pesquisar as revisões sistemáticas, com ou sem meta-análise, nas bases de dados MEDLINE®, Embase® e Cochrane Library através do descritor "tranexamic acid". Após a triagem dos títulos e resumos por seis revisores independentes organizados em pares, o texto completo dos 281 artigos restantes foi revisado na íntegra e categorizados em cirúrgicos ou não-cirúrgicos. Por fim, as revisões no contexto cirúrgico foram categorizadas conforme a especialidade cirúrgica. Dentre as 20 revisões sistemáticas sobre o uso do AT em cirurgia cardíaca, 6 foram consideradas inelegíveis e excluídas e as 14 restantes foram incluídas nesta revisão. O nível de evidência e a qualidade metodológica de cada uma delas foi avaliada usando o sistema GRADE e a ferramenta AMSTAR2, respectivamente. Esta revisão sistemática incluiu 14 revisões sistemáticas, compreendendo 93 ensaios clínicos randomizados e 14 estudos observacionais, realizados em 28 países, incluindo 60.691 pacientes distintos. A qualidade metodológica das revisões foi muito baixa, com exceção de duas. O nível de evidência fornecido por elas foram predominantemente baixo e moderado com apenas uma apresentando evidências de nível muito baixo. O AT reduz a perda sanguínea perioperatória, o risco de reoperação por sangramento, a incidência e o volume das transfusões de hemocomponentes. Ao mesmo tempo, ele não aumenta a incidência de eventos tromboembólicos, injúria renal aguda ou mortalidade quando comparado com placebo. Contudo, o uso do AT em cirurgia cardíaca aumenta o risco de convulsões. Apesar de ainda haver espaço para realização de pesquisas de melhor qualidade, as evidências atuais sustentam que o uso do AT em cirurgia cardíaca é eficaz e seguro na redução da perda sanguínea perioperatória. O aumento no risco de convulsões pode ser mitigado ou até mesmo eliminado através da adoção de regimes com doses baixas e de drogas anestésicas como o isoflurano. Tanto ensaios clínicos quanto revisões sistemáticas futuras deverão esclarecer melhor este último ponto, em particular.